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31 de dezembro de 2011

Os mesmos erros

"Então partiram do monte Hor, pelo caminho do Mar Vermelho, a rodear a terra de Edom; porém a alma do povo angustiou-se naquele caminho. E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito para que morrêssemos neste deserto? Pois aqui nem pão nem água há; e a nossa alma tem fastio deste pão tão vil. Então o SENHOR mandou entre o povo serpentes ardentes, que picaram o povo; e morreu muita gente em Israel. Por isso o povo veio a Moisés, e disse: Havemos pecado porquanto temos falado contra o SENHOR e contra ti; ora ao SENHOR que tire de nós estas serpentes. Então Moisés orou pelo povo. E disse o SENHOR a Moisés: Faze-te uma serpente ardente, e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar para ela. E Moisés fez uma serpente de metal, e pô-la sobre uma haste; e sucedia que, picando alguma serpente a alguém, quando esse olhava para a serpente de metal, vivia" (Números 21:4-9)

Aqui, o povo hebreu, o povo de Deus, estava já há muitos anos caminhando pelo deserto, já há quase quarenta anos caminhavam pelo deserto. E este povo escolhido por Deus, era um povo que não se firmava nas promessas de Deus. Eles estavam já há tanto tempo no deserto, justamente por serem rebeldes ao SENHOR, mas esta lição parecia ser dura de aprender (Nm 14:22-23; 29-34).

Mas a rebeldia de Israel tem muito a nos ensinar:

v4 - "Então partiram do monte Hor, pelo caminho do Mar Vermelho, a rodear a terra de Edom; porém a alma do povo angustiou-se naquele caminho"

O texto diz que o povo teve que contornar a terra de Edom e que, por conta disso, “a alma do povo angustiou-se”.

Moisés havia pedido permissão ao rei de Edom para passar por suas terras e, assim, chegar à terra de Canaã, mas isso não lhes foi permitido. Edom era uma terra onde certamente não lhes faltaria água, nem alimento, mas ainda que tivessem prometido pagar por tudo o que fosse consumido por eles e por seus animais, não receberam permissão (Nm 20:14-20). Foi preciso contornar as terras por um caminho que, pelo que podemos entender, foi pesaroso e escasso de água.

Há momentos em que ficamos angustiados porque parece que nossos sonhos ficam mais distantes; há momentos que o descanso parece fugir de nós; às vezes parece que nossas conquistas escapam por entre nossos dedos: “Ah! Logo agora que parecia tão perto!”. E num momento tudo parece perdido. O povo estava próximo da ‘terra prometida’, mas precisou dar uma volta para alcança-la e o caminho mais fácil ficou para trás. E fico pensando uma coisa quando leio este texto: O povo de Israel era guiado e dirigido por Deus. De dia uma coluna de nuvem e de noite uma coluna de fogo orientava todo o povo. Deus era quem determinava quando partir e quando acampar (Nm 9:8-23). Mas Moisés pediu permissão para passar pela terra de Edom e não a conseguindo, teve que contornar a região. Ora, se era Deus quem conduzia o povo, logo foi por permissão de Deus que eles contornassem Edom! Se a coluna que ia adiante deles os guiasse os conduzisse para dentro das terras de Edom, não teria o povo seguido, com ou sem a permissão do rei de Edom? Com certeza! Mas ainda assim, Deus em sua soberania não interferiu no livre-arbítrio do rei de Edom e conduziu Israel pelos contornos de suas terras. Aquele caminho pesaroso e de escassez de água foi o caminho por onde Deus conduziu o seu povo. Deus estava com eles!

Muitas vezes nos esquecemos disso! Em momentos de aflições, de desilusões, em momentos em que nossas realizações parecem distantes de nós, em momentos de dificuldades e escassez, Deus também está conosco! Ele não nos abandona. O Senhor, em Sua Palavra, nunca nos prometeu um caminho fácil, muito pelo contrário: “O caminho é apertado e a porta é estreita” (Mt 7:14) - o caminho é apertado, não há conforto; “Ide. Eis que vos mando como cordeiros no meio de lobos” (Lc 10:3) – o que acontece com cordeiros no meio de lobos? – “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8:34) – o que isso quer dizer? Será que seus discípulos entenderam o que o Senhor Jesus quis dizer com isso? Certamente! A cruz era um instrumento de martírio. Era a pior pena que um condenado poderia sofrer. Todo condenado à morte por crucificação era obrigado a carregar a sua cruz até o local de seu martírio. Era isso que o Senhor dizia aos seus discípulos: ‘Querem me seguir? Então venham, peguem sua cruz e sigam-me! De agora em diante vocês estão mortos para este mundo; já estão condenados por ele. De agora em diante vocês morreram para esta vida, para os seus desejos e paixões, morreram para o seu próprio eu’. Será que é fácil viver uma vida de renúncia? Será que é fácil viver uma vida de entrega total a Cristo e ao próximo? Sabemos que não. Jesus nos disse ainda: “No mundo tereis aflições” (Jo 16:33) – enquanto estivermos neste mundo seremos afligidos, angustiados, padeceremos dores. O Senhor nunca nos prometeu um caminho fácil, mas nos prometeu que sempre estaria conosco! “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28:20) – a caminhada não é fácil, mas Ele está conosco! Problemas vêm, mas Ele está conosco! Seremos angustiados, mas Ele está conosco! Vamos ser derrubados algumas vezes, mas Ele está conosco! Vamos ser injustiçados muitas vezes, mas Ele está conosco! E em momentos de injustiça, tomem muito cuidado para não disfarçarem um pedido irado de vingança por trás de uma suposta oração de glorificação a Deus. Porque é muito fácil mascararmos nosso ódio debaixo de uma falsa adoração: “Senhor, me exalta neste lugar para que estes que me humilharam sejam envergonhados!”; “Ó Senhor, pese suas mãos sobre estes que me afrontam, para que teu nome seja glorificado neste lugar!” - Isso é na verdade, um clamor por vingança. Mas deixe toda vingança nas mãos do Senhor que é perfeitamente Justo para retribuir a cada um conforme aquilo que fizerem. Vamos preferir seguir o exemplo de Cristo: “Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23:34) – não é o mais fácil, mas é o mais correto e também nisto Deus está conosco!

E o povo de Israel passou neste momento, conforme lemos, por uma desventura, por uma dificuldade. E diante de problemas o povo de Deus, ou clama ao Senhor e descansa em sua providência, ou murmura, demonstrando pouca confiança nas Suas promessas. Israel escolheu murmurar:

v5 – “E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito para que morrêssemos neste deserto? Pois aqui nem pão nem água há; e a nossa alma tem fastio deste pão tão vil”

Mas que povinho ingrato! Que povo perverso! Mas que gentinha pequena e medíocre! Percebam o quão baixo foi o caráter deste povo por conta desta murmuração: este povo era escravo no Egito e Deus liberta toda esta gente da opressão de Faraó. Liberta com grandes sinais e prodígios. Deus opera milagres incríveis diante de todos, demonstrando o seu poder e juízo; demonstrando que Ele é o Único e Verdadeiro Deus. E agora este povo caminhava livre pelo deserto rumo a uma terra muito boa, terra que manava leite e mel, terra esta prometida por este mesmo Deus Poderoso e Verdadeiro que os livrara das mãos de Faraó. E agora diante de uma dificuldade o que o povo diz:

"Ah, porque saímos do Egito?” – Perceberam? Para este povo era melhor permanecer escravo e ser duramente oprimido, se isso lhe garantisse pelo menos boa comida, do que ser livre e padecer, por algum tempo, de alguma necessidade até que alcançasse a terra prometida, a terra melhor, o lugar de fartura, terra que manava leite e mel. Para eles era melhor serem escravos, se isso lhes desse algum tipo de conforto, do que serem livres e terem que depender totalmente de Deus numa terra árida e sem recursos, por algum tempo, até que alcançassem a terra da promessa. Para eles era melhor o salário da escravidão do que o sustento de Deus!

“Ah, está terra é seca, não há água neste lugar!” – não fazia muito tempo, Deus, por meio de Moisés, fez fluir água da rocha para saciar a sede não só do povo como também de todos os seus animais. Ora, esse Deus Poderoso e Benigno que já os vinha sustentando há tanto tempo não continuaria a Sua obra até cumprir a Sua promessa? Mas este povo não se firmava nas promessas de Deus, nem se lembravam do Seu cuidado e sustento.

“Ah, já estamos enfastiados deste pão, já enjoamos deste pão tão vil” – o povo passou a desprezar o maná de Deus. Deus enviava todas as manhãs o maná sobre o deserto. Era maravilhoso este milagre de Deus na vida do povo de Israel. Segundo a Palavra de Deus o maná era como a semente de coentro que quando comido ao natural seu sabor era como o de bolos de mel (Êx 16:31), já quando moído ou amassado e preparado ele tinha o gosto de azeite fresco (Nm 11:7-8). E mesmo diante de todo este cuidado de Deus, o povo murmura!

Mas vamos tirar os olhos de Israel um pouco e vamos olhar para nós mesmos, vamos olhar para nossas atitudes. Porque muitas vezes lemos a história de Israel e pensamos assim: “Ah, se eu tivesse visto estas maravilhas jamais agiria como este povo rebelde!”. Será? Porque a história do êxodo de Israel ilustra a nossa própria história, nós podemos dizer que a história de Israel é um espelho da nossa própria história: A vida de escravidão no Egito pode ser entendida como a nossa vida de escravidão no pecado; viver no Egito é viver no mundo longe da vontade de Deus, longe da comunhão com Deus, debaixo da opressão do inimigo. A Páscoa que o povo de Israel celebrou na noite em que Deus libertou a nação, simboliza a morte de Cristo cujo sangue livra da morte e da escravidão do pecado todo aquele que nele crê. A peregrinação de Israel pelo deserto simboliza a nossa própria peregrinação, porque seguimos como forasteiros neste mundo (1Pe 2:11), pois nossa pátria não é daqui, nossa terra prometida é a Jerusalém Celestial (Hb 11:13-16,12:22; Ap 21:1-3). Até que alcancemos a promessa de Deus, peregrinaremos neste deserto que é o mundo. Então percebam que nós também somos, muitas vezes, mesquinhos como foi o povo de Israel. O Senhor nos tirou da escravidão do pecado, nos tirou do reino das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor (Cl 1:13), nos prometeu a Vida Eterna na Nova Jerusalém, uma vida plena de comunhão com Ele, mas até que a plenitude dos tempos se cumpra, por um pouco, seremos contristados, até que a glória de Deus se manifeste em nós (1Pe 1:3-7). Mas mesmo diante de tamanha promessa, mesmo diante de toda a providência de Deus em nossas vidas, nós muitas vezes, preferimos buscar prazer e conforto na escravidão da velha vida de pecados. A Palavra nos diz que “se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5:17) e que o verdadeiro valor em Cristo é o “ser nova criatura” (Gl 6:15), mas nós muitas vezes desprezamos a vida de nova criatura para vivermos a velha vida sem qualquer compromisso com o Pai; longe de Sua vontade, ou da Sua comunhão. Olhe para a sua própria vida e analise quantas vezes você tem deixado Deus de lado e feito aquilo que não é de Sua vontade. Quantas vezes temos buscado a nossa própria satisfação, ainda que esta seja contrária à vontade de Deus? Quando leio a história de Israel eu me vejo muitas vezes agindo como eles e só encontro uma explicação para eu estar aqui hoje: a imensa graça e misericórdia de Deus agindo na minha vida. E a história de Israel também nos dá um alerta: O Deus de amor também traz juízo, mas Ele sempre nos dá uma oportunidade de nos arrependermos.

v6 – “Então o SENHOR mandou entre o povo serpentes ardentes, que picaram o povo; e morreu muita gente em Israel”

Diante da ingratidão do povo de Israel e mais, diante da falta de confiança do povo nas promessas do SENHOR, Deus envia serpentes no meio da congregação. A falta de fé no SENHOR trouxe ao povo uma dificuldade ainda maior. Se já estava difícil para o povo enfrentar o deserto, agora então, tornou-se insuportável. E qual lição tiramos disto? Que no deserto – lugar de provação; de purificação; de tratamento de Deus; lugar onde, muitas vezes, nos sentimos sós e desamparados – a fé em Deus é o que torna nossa caminhada menos conturbada; é esta fé em Deus que nos trará aperfeiçoamento e maturidade espiritual. Estar no deserto e não buscar o apoio de Deus é atrair para si as serpentes que mais, cedo ou mais tarde, vão dar uma mordida fatal. Mas qual é a função da tribulação na vida do crente? Será que há algum motivo para as tribulações, as dificuldades ou aflições na vida dos cristãos? O versículo seguinte nos mostra que sim:

v7 – “Por isso o povo veio a Moisés, e disse: Havemos pecado porquanto temos falado contra o SENHOR e contra ti; ora ao SENHOR que tire de nós estas serpentes. Então Moisés orou pelo povo”

Eis aqui o princípio de toda repreensão que vem da parte de Deus: o seu objetivo principal é levar o pecador ao arrependimento verdadeiro. Toda repreensão, ou correção que vem da parte de Deus tem por fim o arrependimento do pecador para que este volte aos caminhos do SENHOR. É esta a verdade que lemos na Palavra de Deus: “Porque o SENHOR repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem” (Pv 3:12). E o Senhor Jesus também disse: “Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe” (Lc 17:3) – porque a repreensão não deve ser usada como uma forma de subjugar os outros, mas de entrar em comunhão pelo amor de Cristo, reinando a Paz. Onde há perdão, não há mais lembrança da falha. Aqui, o povo de Israel estava sendo disciplinado pelo SENHOR e Seu objetivo era levar a nação ao arrependimento. E o povo entendeu – ‘Estamos pecando. Estamos murmurando contra o SENHOR!’. Entendendo o seu erro, o povo clama a Moisés que interceda por eles. Tomaram a atitude correta. Moisés era a boca de Deus no meio do povo. Mas o mais interessante desta história toda foi a providência divina para o clamor daquele povo:

v8 – “E disse o SENHOR a Moisés: Faze-te uma serpente ardente, e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar para ela”

Mas qual foi o pedido do povo? “ora ao SENHOR que tire de nós estas serpentes. Mas notem que Deus proveu ao povo uma forma de enfrentarem aquela adversidade. Deus não retirou as serpentes do meio da congregação; Deus não retirou a tribulação do meio do povo, mas deu a todos um escape para suportarem a tribulação. Na grande maioria das vezes (para não dizer todas), nós clamamos ao Pai pedindo a Ele que Ele retire de nós toda a tribulação, assim como os israelitas fizeram; pedimos a Ele que nossos problemas desapareçam – até porque entendemos errada a oração que o Senhor nos ensinou: “Não nos deixe cair em tentação” (Mt 6:13) - Este versículo pode ser melhor entendido da seguinte forma: ‘Senhor, na tentação não me deixe cair’; ‘enquanto eu estiver em tentação me deixe de pé, Senhor!’. Aqui o Senhor nos ensina a clamar ao Pai para que Ele nos livre das tentações às quais não podemos suportar: ‘Senhor, não me conduza àquelas situações para as quais eu ainda não estou preparado para suportar’. Mas se você está maduro, aguarde provações e fique tranquilo porque: “... Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele lhes providenciará um escape, para que o possam suportar” (1 Co 10:13) - o melhor é pedirmos ao Pai sabedoria e força para superarmos toda tribulação.

As serpentes estavam por toda parte, o povo estava arrependido e amedrontado e buscou em Deus uma solução. A solução de Deus para o povo foi: ‘Vamos exercitar a fé deste povo’ – não foi o que Deus disse, mas eu entendo que foi esta a intenção dEle. Quando Deus mandou que Moisés fizesse uma serpente de metal fixada numa haste e que a pusesse num lugar visível a todo o povo, Deus não concedeu nenhum poder especial àquela serpente de metal, mas direcionou a nação a crer em sua promessa: ”e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar para ela”. É de vital importância entender que o que livrava da morte não era a imagem da serpente, mas sim a fé daquele que a olhava e cria na promessa do SENHOR. E como é que podemos ter certeza disto? Examinando as Escrituras! Se nos reportarmos ao Livro de Tiago encontraremos uma passagem interessante a respeito da cura divina: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tiago 5:14-15) – aqui vemos a orientação de Tiago para que os presbíteros (bispos e pastores – não é qualquer um) orassem e ungissem os enfermos, para que fossem curados. Notemos que o Senhor levantará o doente segundo a oração da fé! Não é a unção com o óleo o mais importante, mas sim a oração da fé na promessa de que o Senhor levantará o doente. É na fé que está o real valor. O mais relevante sobre esta questão, entretanto, é a comparação que o Senhor Jesus fez: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:14-15). O Senhor Jesus apresentou este evento da vida do povo de Israel como uma figura do que viria a acontecer consigo mesmo. A serpente de metal levantada no deserto, conforme as palavras do próprio Senhor Jesus, é um tipo de Cristo no Antigo Testamento. Ora, se são salvos pela Graça de Deus todos os que creem em Cristo e não, simplesmente, os que olharam para Ele, assim também foram salvos mediante fé, todos os que, olhando para serpente, creram na promessa do SENHOR. A serpente de metal de forma figurada representa o Senhor Jesus, pois foi levantada, assim como o Senhor Jesus também; foi uma providência de Deus para livrar as pessoas da morte física, assim como nosso Senhor foi a providência divina para livrar as pessoas da morte espiritual e, na consumação dos séculos, também da morte física para sempre; a serpente de metal foi um livramento em meio a adversidade (não da adversidade), assim como o Senhor Jesus é o nosso Salvador que nos salva já neste mundo, para por fim, nos salvar também deste mundo; a serpente de metal foi uma bênção de Deus para o povo de Israel, assim como nosso Senhor Jesus é a maior bênção que o Pai ofereceu a todos os povos e nações da terra.

v9 – “E Moisés fez uma serpente de metal, e pô-la sobre uma haste; e sucedia que, picando alguma serpente a alguém, quando esse olhava para a serpente de metal, vivia”

Segundo a palavra de Deus, Moisés fez a serpente, e conforme Sua própria palavra, Deus cumpriu a Sua promessa: todo aquele que, picado por alguma serpente, olhava para a serpente de metal, permanecia vivo. Mas uma vez é bom frisarmos: Deus não livrou o povo das serpentes, nem mesmo de suas picadas, mas permaneceu fiel as Suas promessas e preservou a vida de todo aquele que creu.

Nesta vida encontraremos com muitas serpentes pelo caminho. Algumas virão em desertos, outras virão em mananciais e nos pegarão de surpresa, algumas talvez consigam nos picar; pode ser até que nos deparemos com aquela Antiga Serpente, mas não se assustem, sigam o conselho do homem de Deus: “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4:7) – mantenha-se sujeito a Deus, debaixo da Sua autoridade que assim você resiste, até que ele fuja e não se esqueça, o Senhor já nos revelou acerca desta Antiga Serpente: em breve “o Deus de paz esmagará Satanás debaixo dos vossos pés” (Rm 16:20). Apenas sigam o conselho do nosso Senhor “tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16:33) – o Senhor está nos dizendo: tende bom ânimo, não desanime durante sua caminhada; persevere em sua fé. Não deixe seu fôlego acabar, o mundo pode ser terrível, mas Eu venci o mundo; toma fôlego de mim, se encha do meu sopro, se encha do meu Espírito (Ef 5:18) e te conduzirei em segurança mesmo que em meio a desertos.

Deus tem sempre o melhor para nos oferecer, mas muitas vezes nós não reconhecemos. E ter a Deus como nosso Senhor é a maior bênção que poderíamos almejar – “Bem-aventurado é o povo cujo Deus é o SENHOR” (Sl 144:15) – mas nós ficamos buscando bênçãos menores e nem nos propomos a, pelo menos, buscar em Deus sabedoria para usufruir das bênçãos menores que Deus graciosamente nos dá. Nós temos uma irritante habilidade para transformar as bênçãos de Deus em maldições nas nossas vidas. 

Quantas histórias nós conhecemos de pessoas que receberam uma provisão de Deus, um bom emprego, mas que com o tempo, deixaram-se dominar pelo seu emprego, pelas suas obrigações, a ponto de não mais poderem congregar e até de perderem a vontade de congregar? É um exemplo de bênção da parte de Deus que transformamos em maldição. Mas alguns podem me questionar e dizer que isto, na verdade, não é uma bênção de Deus, mas um laço do inimigo para desviar o crente do caminho. Então eu já complemento, perguntando: Quando Deus enviou codornizes para o povo no deserto comer, isso foi uma bênção da parte de Deus ou uma maldição? Vamos analisar: O povo de Israel, como de costume, murmurou contra Deus:

Ex 16:3 –“Quem dera tivéssemos morrido por mão do SENHOR na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, quando comíamos pão até fartar! Porque nos tendes trazido a este deserto, para matardes de fome a toda esta multidão”.

Em resposta, o SENHOR, em Sua misericórdia responde:

Ex 16:12-14 – “Tenho ouvido as murmurações dos filhos de Israel. Fala-lhes, dizendo: Entre as duas tardes comereis carne, e pela manhã vos fartareis de pão; e sabereis que eu sou o SENHOR vosso Deus. E aconteceu que à tarde subiram codornizes, e cobriram o arraial; e pela manhã jazia o orvalho ao redor do arraial. E quando o orvalho se levantou, eis que sobre a face do deserto estava uma coisa miúda, redonda, miúda como a geada sobre a terra” [o maná].

Mesmo diante de tamanha ingratidão de Israel, o SENHOR abençoou aquele povo com carne e pão. Mas esta bênção que veio da parte de Deus, como prova de que JEOVÁ é o único Deus Verdadeiro, tornou-se em maldição por causa da dureza e ingratidão de coração deste povo. Vejam: numa outra ocasião o povo de Israel, mais uma vez, murmura contra o SENHOR:

Nm 11:4 – “E o vulgo, que estava no meio deles, veio a ter grande desejo; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar, e disseram: Quem nos dará carne a comer?” – Nm 11:6 – “Mas agora a nossa alma se seca; coisa nenhuma há senão este maná diante dos nossos olhos”.

E a respostado SENHOR foi:

Nm 11:18 – “E dirás ao povo: Santificai-vos para amanhã, e comereis carne; porquanto chorastes aos ouvidos do SENHOR, dizendo: Quem nos dará carne a comer? Pois íamos bem no Egito; por isso o SENHOR vos dará carne, e comereis” – Nm 11:31-32 – “Então soprou um vento do SENHOR e trouxe codornizes do mar, e as espalhou pelo arraial quase caminho de um dia, de um lado e de outro lado, ao redor do arraial; quase dois côvados sobre a terra. Então o povo se levantou todo aquele dia e toda aquela noite, e todo o dia seguinte, e colheram as codornizes; o que menos tinha, colhera dez ômeres; e as estenderam para si ao redor do arraial – esta foi a bênção.

Mas seguindo o texto, lemos:

Nm 11:33-34 – “Quando a carne estava entre os seus dentes, antes que fosse mastigada, se acendeu a ira do SENHOR contra o povo, e feriu o SENHOR o povo com uma praga mui grande. Por isso o nome daquele lugar se chamou Quibrote-Ataavá, porquanto ali enterraram o povo que teve o desejo” – o que era uma bênção da parte de Deus, Israel tornou em maldição porque desejou as delícias do Egito, desprezando as dádivas de Deus.

Outro exemplo claro é a própria serpente de metal. A serpente de metal foi uma bênção de Deus para povo. Foi o sinal do livramento de Deus entre o povo de Israel. Mas o que aconteceu com esta serpente? A serpente que deveria ser um símbolo da fidelidade de Deus, um memorial do cumprimento da promessa de Deus, pelo menos enquanto as víboras estavam entre o povo, tornou-se uma grande pedra de tropeço no meio da nação de Israel. Em 2 Reis 18 encontramos a história do rei Ezequias e no versículo 4 temos a seguinte descrição de seus atos:

“Ele tirou os altos, quebrou as estátuas, deitou abaixo os bosques, e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera; porquanto até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso, e lhe chamaram Neustã” 

Aquilo que era uma bênção da parte de Deus, tornou-se uma maldição, não pelo SENHOR, mas pela imaturidade do povo de Israel que insistia em se rebelar contra Deus, fazendo de meros símbulos uma fonte de idolatria. É por isso que eu não gosto do uso de objetos para “ajudar a fé”: rosa ungida, sabonete ungido, roupas ungidas, lenços, fitinhas, canetas, contratos ungidos; até porque, no novo testamento, o único alvo de unção com óleo são os enfermos. Não vemos no novo testamento unção de objetos, só unção de enfermos (Tg 5:14). Esses tipos de coisa, em minha opinião, só nos fazem mudar o foco da verdadeira devoção. Ao invés de depositarem a fé no Deus que sara, que é provedor, que é a nossa Paz, passam a depositar a fé na correntinha ungida, na água ungida, no sal, na fogueira... Foi o que aconteceu com o povo de Israel, ao invés de firmarem sua fé no Deus da providência, fizeram da providência de Deus o seu próprio deus. O perigo é que de repente, para uma porção de gente, o que cura é a rosa e não Deus; o que livra é óleo lambuzado no carro e não Deus; o que liberta do pecado é a fogueira santa e não o sangue de Cristo.

Israel deixou a adoração do Deus Verdadeiro de lado para adorar a serpente de metal. E a conclusão que tiramos de tudo o que foi dito é: busquemos sempre o Deus de todas as bênçãos e não todas as bênçãos de Deus. Ainda que não conquistemos tudo o que queremos, vamos agrader a Deus por tudo o que já conquistamos. E ainda que a vida nos reserve derrotas, saibamos que a maior de todas as derrotas é viver a vida e morrer sem Deus.
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